Moradores criticam mudanças na Operação Urbana Água Espraiada

A construção de um túnel de 2,3 quilômetros ligando o piscinão do Jabaquara até a Avenida Ricardo Jafet foi questionada pela sociedade civil durante audiência pública realizada nesta segunda-feira na Câmara Municipal. A obra está prevista no Projeto de Lei 25/2011, já aprovado em primeira votação, que altera a lei municipal que instituiu a Operação Urbana Água Espraiada, de 2001.

O PL 25/2011, do Executivo — que também prevê um parque linear de 600 m² —, foi amplamente criticado pela população presente na audiência, convocada pela Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente.

Segundo Elisabete França, da Secretaria de Habitação, com o projeto atual a região ganhará tanto em mobilidade quanto em drenagem do solo e outros benefícios trazidos pelo parque. Para Luis Vital, engenheiro e morador da área, no entanto, "em termos de urbanização o projeto é furado". "A região está a três quilômetros do Ibirapuera, e próximo da represa Guarapiranga e do Parque do Estado", argumentou, referindo-se ao parque linear.

O vereador Donato (PT) também questionou a intervenção. "Eu sei que essa alteração não foi feita na Prefeitura, o que me estranha mais ainda. Foi no âmbito da Dersa que foi criado esse túnel, e o órgão não tem nenhuma grande expertise na adequação urbanística", argumentou.

José Orlando Ghedini, representante da Associação dos Moradores do Entorno do Aeroporto, afirmou ainda que a Prefeitura não apresentou uma planta do parque linear, apenas do túnel. "A jogada do PL 25 é dar um cheque em branco. Nós estamos aqui para tentar fazer uma obra melhor possível, com o menor custo e melhor para todos".

Vital disse ainda que grande parte dos moradores não é contrária à Operação Água Espraiada, e sim às últimas propostas apresentadas. "Desde 2001 esperamos uma avenida. Foi uma surpresa saber que a avenida se tornaria um túnel".

Por outro lado, Jorge Eduardo Rubies, da Associação Preserva SP, se manifestou contra qualquer obra na região. "Cidades desenvolvidas não fazem obras desse porte há mais de 30 anos. Obras viárias voltadas para automóveis são inúteis, pois só aumentam o trânsito. Esse túnel não vai ajudar o trânsito, pois muitas pessoas já utilizam o Rodoanel", disse.

O secretário municipal de Infraestrutura Urbana, Elton Santa Fe, afirmou que as mudanças na Operação Água Espraiada são uma evolução do projeto inicial. "Administrações anteriores acabaram concluindo que o projeto como estava não era viável", declarou.

DESAPROPRIAÇÕES
As intervenções previstas no PL 25/2011 levariam a 1,3 mil desapropriações na região, enquanto o projeto antigo limitava esse número a 900. Serão mais de oito mil casas demolidas, se somadas as moradias precárias.

Para Marcos Munarim, morador da região, o Executivo usa causas nobres como o meio ambiente para expulsar famílias. Segundo Jose Orlando Ghedini, o número de casas demolidas para a construção do túnel e do parque pode ser ainda maior, uma vez que a Prefeitura não atualizou por completo as plantas.

Apesar de a Procuradoria do Município afirmar que os valores pagos para as famílias desapropriadas são justos e que todos receberão novas moradias — a maioria delas na própria região —, vereadores e munícipes questionaram a ausência de dados concretos sobre os investimentos e localização das futuras casas. Para o vereador Paulo Frange (PTB), a apresentação de um cronograma seria a melhor maneira de cobrar a realocação das pessoas.

Tanto Ítalo Cardoso (PT) quanto Tião Farias (PSDB) afirmaram que seria "temerário" aprovar o PL 25/2011 sem saber o custo das desapropriações. "O que os técnicos trouxeram para nos já nos ajuda, mas em uma obra dessa importância, não temos o direito à desinformação", disse Farias.

A Procuradoria do Município afirmou que depende da avaliação, feita o mais perto possível das desapropriações, para afirmar o quanto será gasto.